Acho engraçado quando algumas mulheres dizem: “O
corpo é meu, me respeite.” Pra mim a coisa é ainda mais radical: “O corpo SOU
eu”, ou, talvez melhor: “Eu sou, dentre várias coisas, também o meu corpo.” O
meu corpo é a primeira mediação entre mim e o mundo, entre mim e as outras
pessoas. Eu me apresento aos outros,
primeiramente, como corpo. Isto é, os outros, antes de tudo, me veem, percebem
a minha presença material, e só depois tomam conhecimento dos meus pensamentos,
crenças, sentimentos – e
do mesmo jeito que não exponho o meu pensamento (ou todos os meus pensamentos)
a qualquer pessoa, também tem coisas do meu corpo que prefiro guardar.
O corpo é, portanto, uma dimensão
importantíssima do meu ser e uma dimensão inalienável. E por isso ele não é
simplesmente minha posse (como são as minhas roupas, os meus livros e... os
meus livros), mas é uma parte inseparável do que eu sou.
Respeito muito as feministas e me considero uma
delas em certo sentido (não sei se o sentimento de identificação seria
recíproco...), mas acredito que na luta contra a violência e em favor do
respeito ao corpo das mulheres algumas das feministas estão perdendo uma parte
fundamental da história... (algumas só, outras sacam perfeitamente bem do que
se trata). E a parte fundamental é que a opressão a que as mulheres foram (e
ainda são) sujeitadas se deve grandemente a uma mentalidade que facilmente
dissocia o corpo feminino da pessoa.
Essa dissociação ou alienação atinge muito menos
os homens. Podem ver: é muito mais raro que eles se deparem com certas partes
da sua anatomia ilustrando peças publicitárias, capas de revista etc. Os homens
conseguem dizer, com muito mais tranquilidade, que eles são o seu corpo. Porque
eles de fato se sentem assim (ou, pelo menos, a maioria parece se sentir. É
claro que há exceções e pra muitos homens também é difícil lidar com a integração entre corpo e pessoa). Já nós mulheres... Quantas vezes não sentimos que o nosso cabelo,
as nossas medidas, as nossas formas estão muito aquém e são muito insatisfatórias
diante daquilo que somos ou gostaríamos de ser? Esse sentimento é justamente o
sintoma de um imaginário que, ao alienar o corpo feminino da pessoa, acaba por
encarar esse corpo como uma posse. E isso é muito perigoso, pois uma posse pode
ser exercida pelo seu dono ou dona legítimos, mas também pode ser vendida,
cedida, invadida e tomada.
Prefiro encarar o meu corpo não como minha
posse, mas como eu mesma. Porque é assim
que eu gostaria que me olhassem: eu.
Por Hannah
Que linda maneira de se amar por completo. O corpo e a alma formam a nossa identidade.
ResponderExcluirAdorei o texto.
Sensacional o texto! Quando nós mulheres vamos ser nós mesmas? Sem ser a imagem do que o mundo quer que sejamos? Quando nosso cabelo, nosso corpo, nossas belezas e imperfeições serão simplesmente o que nos distingue e nos faz ser um EU?!?!?
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