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29 de abril de 2015

Ser Maria


Meu padrinho uma vez me disse que não me deixaria casar antes de eu me formar na faculdade, porque teoricamente isso significa que eu não trabalharia fora, e eu sou inteligente demais pra ficar em casa e "ser maria".

Que fatídico futuro: observar comerem da comida que preparei com gosto, vestirem a roupa que dobrei sorrindo ("estão crescendo tão rápido, daqui a pouco já não cabe mais!"). Perfumar a casa e transformá-la em lar (tão limpinho!). Estar presente e dar atenção aos filhos, dar carinho e arrumar a bagunça depois que eles dormirem. Receber meu José cansado do trabalho e ser seu descanso. 

O que será que tem de tão pavoroso nisso?

Que AUDÁCIA ser Maria! Quanta dignidade pôs ela, com seu toque santo e feminino, nas coisas da casa! Quem me dera ser perfeita e alcançar o que ela alcançou sendo mãe e esposa, que honra amar, servir, e multiplicar. Quanto poder tem a mulher, de definir o tom de uma família, de formar uma criança, de ser o bom humor de um homem. Em que mundo maravilhoso moraríamos se todas as mulheres fossem Marias?!

Sinto muito, padrinho, mas trabalhando ou não, eu pretendo ser Maria.

BM

4 de dezembro de 2013

Família II


Um. Um. Uma. Um. Uma. Uma. Um.
Uma e - eu.
(nóve? sim
do mesmo pai e da mesma- sim.)
A moça que trabalha, os cuidadores
nada de cachorros, e o jardim?
e a mãe que trata de tudo

O balanço, o sofá, a cama
o cafezinho, trabalho, trabalho
- mas primeiro a oração
o sorvete com doce de leite,
a música tocando todo sempre
e a mamãe que cuida de tudo

Os exames, o gás, o jardineiro
os médicos dia sim dia não
a mágica malabarista de tirar daqui e pôr ali
o dinheiro. Mas a generosidade o ano inteiro
/Faz o que deves, está no que fazes. Cumpre o pequeno dever de cada instante. 
Transforma em decassilabo heroico a prosa diaria/
a minha mamãe que cuida de nós

Drummond e M.

23 de outubro de 2013

Minha cunhada se mudou



Quando tinha cinco anos mudei de cidade pela primeira vez. Ano que tem faz dez anos que moro longe da minha família. Lembro do sofrimento que era no começo: um chororô a cada despedida, um chocolate a cada saudade. Dizem que o tempo cura tudo, e eu achava que esses 10 anos tinham me curado. Tinha essa ilusão de desapego, de é assim, fazer o que?, de o mundo é muito grande pra se passar a vida num lugar só mesmo...
Algum tempo atrás minha cunhada se mudou de repente. Eu achando que viver era ganhar horizontes e descobri que tinha raízes. Percebi que apesar de ela nunca sair comigo (ô menina atarefada!) eu queria poder continuar chamando. Quando arrancam uma raiz, o buraco que fica no chão é muito grande e a gente cai. E eu, antes valentona, chorei, regando-me e aprofundando-me ainda mais na terra.
BM

28 de agosto de 2013

Minha cunhada vai casar




Desde pequena, quando pensava no meu futuro, não pensava no meu dia, num escritório que me tornaria uma profissional bem sucedida: pensava em seis e meia da tarde.

Tô procurando a chave de casa e meia dúzia de cabecinhas me apressando. “Vai logo, mamãe, quero fazer xixi!” Abri a porta e duas bolinhas rosas entraram piruetando pela sala. Talvez toque pra elas dançarem depois da janta (aprendi piano pra tocar durante a gravidez). Entrou também uma que resolveu fazer ginástica olímpica só pra acabar com o meu coração de bailarina. Mais um moleque PRETO de tanto se jogar no chão no futebol (“direto pro chuveiro, sem encostar essa mão na parede, hein!”) e um no ombro do pai, mostrando o golpe que aprendeu no judô.
Criei uns braços a mais e fiz a janta e dei banho em metade. Hoje misturei beterraba no macarrão. “Mamãe, é da Barbie?!” “Eca, é de menina!” Como é difícil fazer essas crianças comerem! Sobremesa, todo mundo quer! E esse pai coruja ainda vive comprando sorvete... O cadeirão está vazio, a bonita não saiu do colo desde que chegou em casa (acho que estamos mimando demais essa menina).
“Anda logo, Lorenzo, só falta você! Você e os seus irmãos ainda têm que fazer o dever de casa!” Criança precisa de rotina. Depois da tarefa, historinha, santo anjo e CAMA!
Silêncio. Mas quem disse que pai e mãe se esquecem dos filhos alguma hora? Como estão lindos! Espertos, engraçadinhos, tão arteiros! Domingo a vovó não vai nem acreditar. Dente de um caindo, de outra, nascendo...

Nascendo também está uma família. Agora, em 2013. Minha cunhada vai casar. Não segurei o choro ao pensar nesse fruto tão bonito do matrimônio que é a vida, o amor. Disfarçado na rotina em forma de risadinhas.


B.M.

10 de julho de 2013

O amor dos meus amores




É possível ensinar alguém a amar? A grosso modo e ao pé da letra, certamente que não.

Mas a vida, sim ela mesma, nos ensina que o amor vai muito além das lágrimas derramadas por aquele menino do colégio ou mesmo das frases que prontamente repetimos aos nossos pais, durante a infância. O amor, nada mais é, que reflexo do cotidiano ao qual somos inseridos ao nascer.

Para a criança, beijar significa gostar, e ela sabe disto e, assim demonstra seu afeto. Esta forma de amor é aquela clássica. Mas a que, realmente, me encanta é a “camuflada” nos pequenos acontecimentos cotidianos. Aquela em que não é necessário iniciar ou incitar o sentimento, quando o amor se faz presente quase que “sem querer”.

Ver uma criança integrada à família, reconhecendo os pertences de cada ente, sabendo dos gostos dos familiares, assim como interagindo no universo do “lar” é a forma mais pura e serena de amar. Um sentimento que se desprende do óbvio e tende a seguir em construção por tempo indeterminado.

É nesta interface família-lar-cotidiano que o amor pode ser ensinado, não como doutrina, mas sim como sentimento arraigado no “ser”. O amor, quando assim é tratado, deixa de ser apenas uma qualidade individual e passa a ser característica familiar, social e universal.

Por isso, acredite, nós podemos, sim, ensinar a amar.


Por Clarisse

12 de junho de 2013

Um cappuccino e um quiche





- Um cappuccino e um quiche, por favor.
- Você teria 7 minutos para que eu aqueça o quiche? Algum problema?

Eu me sentei na mesa um pouco atônita para aguardar. Aquela velha e recorrente sensação de um mundo onde ninguém tem tempo me deixava um pouco enjoada.

Ao meu lado se senta uma mulher, seu marido e o filho. A mulher bordava uma roupinha de bailarina em pleno aeroporto. Pedia a opinião do marido. Deveria por mais ou menos babados? Achei a imagem, no mínimo, poética. Com as parcas opiniões do marido e com o meu diploma de bailarina na minha bagagem de vida, senti-me na obrigação de dar a minha.

Não era um collant de ballet, mas de atleta de ginástica, o que, de forma alguma, tornava minha opinião irrelevante. Falei sobre minha mãe que também me aguardava nos ensaios e bordava as minhas roupas. Lembrei-me da minha vizinha que bordava as roupas da seleção. Sim, eu a conheço. Sim, a seleção treina no Paraná, isso mesmo, lá no interior. Achei que fosse roupa de patinação. Tem também a esposa do meu primo que treina campeões. Eu me recordava da minha herança interiorana, da minha herança de bailarina, da minha herança de família. Da minha bagagem de sim e da minha bagagem de não.

Compreendi um pouco mais sobre o amor ao saber que os três dirigiam por 20 km pra ir e 20 km para voltar todos os dias até ali ao aeroporto para aguardar a menininha que treinava de segunda a sábado, das 13:30 h às 20:30 h. “Isso que hoje o mais velho não pode vir” era o que me falava a mãe. Nenhum deles estava ali para viajar assim como nenhum deles estava ali para treinar. Estavam apenas para, aguardando, apoiar.

Entendi que aquele sonho de ser campeã era um sonho e um empenho de pelo menos mais quatro pessoas. Família vezes quatro, amor quadruplicado.

Ganhei elogios pela minha cara e postura de bailarina. Oferta de emprego porque procuram professores e precisam importar as russas. Pensei até em um instante em mudar completamente de vida e trocar de emprego. Pensei em conhecer o Kremlin um dia.

Soube que 2016 ainda está próximo, teremos todos os cinco (agora contando comigo) que aguardar até 2020. Sim, porque se a pequena gaúcha já é campeã e com tanto amor ao redor, eu estou botando toda fé nela.

Reparo, então, que meu quiche já esfriava em minha mesa.


- Sim, moço, tenho sete minutos. Sete minutos para dar e sete minutos para receber. Nenhum problema.


Por Juliana

15 de maio de 2013

Limbo





No consulado americano do Rio, o rapaz que nos entrevistou não quis acreditar: O que vão fazer no Alabama?

Mais de duas décadas depois ainda estamos aqui em Birmingham, Alabama, sul dos Estados Unidos. A princípio tudo nos encantou. A quantidade de árvores, a vida calma tão diferente do Rio, o espaço das casas e apartamentos. Resolvemos ficar, aumentar a família, comprar uma casa.

Aos poucos fomos vendo que criar filhos no Alabama pode ser uma tarefa dantesca. Como formar pessoas de mente aberta, cidadãos do mundo, em uma terra onde impera uma mentalidade conservadora e pouco flexível? Afinal estamos falando do "Bible belt", um lugar onde o fanatismo religioso se mistura ao capitalismo e ao culto às armas de fogo.

Apesar das dificuldades isso foi acontecendo. Conhecer o mundo e outras culturas certamente ajudou. Descobrimos também que existem exceções à regra, que algumas pessoas pensam diferente e ousam fazer parte de uma minoria. Ter as suas próprias ideias nunca vai fazer de você a pessoa mais popular da escola ou da vizinhança, mas sem dúvida ajuda na formação do seu caráter e personalidade. E você pode usufruir do lado positivo. Pode sair às compras a qualquer hora da noite sem medo, respirar ar puro, ter um sistema de saúde e educação decentes.

Assim nos encontramos nessa espécie de limbo. Morando no sul sem sotaque ou mentalidade sulistas; nem completamente brasileiros ou americanos. Apesar dos prós e dos contras, está valendo a pena.

Por ZH