12 de junho de 2013

Um cappuccino e um quiche





- Um cappuccino e um quiche, por favor.
- Você teria 7 minutos para que eu aqueça o quiche? Algum problema?

Eu me sentei na mesa um pouco atônita para aguardar. Aquela velha e recorrente sensação de um mundo onde ninguém tem tempo me deixava um pouco enjoada.

Ao meu lado se senta uma mulher, seu marido e o filho. A mulher bordava uma roupinha de bailarina em pleno aeroporto. Pedia a opinião do marido. Deveria por mais ou menos babados? Achei a imagem, no mínimo, poética. Com as parcas opiniões do marido e com o meu diploma de bailarina na minha bagagem de vida, senti-me na obrigação de dar a minha.

Não era um collant de ballet, mas de atleta de ginástica, o que, de forma alguma, tornava minha opinião irrelevante. Falei sobre minha mãe que também me aguardava nos ensaios e bordava as minhas roupas. Lembrei-me da minha vizinha que bordava as roupas da seleção. Sim, eu a conheço. Sim, a seleção treina no Paraná, isso mesmo, lá no interior. Achei que fosse roupa de patinação. Tem também a esposa do meu primo que treina campeões. Eu me recordava da minha herança interiorana, da minha herança de bailarina, da minha herança de família. Da minha bagagem de sim e da minha bagagem de não.

Compreendi um pouco mais sobre o amor ao saber que os três dirigiam por 20 km pra ir e 20 km para voltar todos os dias até ali ao aeroporto para aguardar a menininha que treinava de segunda a sábado, das 13:30 h às 20:30 h. “Isso que hoje o mais velho não pode vir” era o que me falava a mãe. Nenhum deles estava ali para viajar assim como nenhum deles estava ali para treinar. Estavam apenas para, aguardando, apoiar.

Entendi que aquele sonho de ser campeã era um sonho e um empenho de pelo menos mais quatro pessoas. Família vezes quatro, amor quadruplicado.

Ganhei elogios pela minha cara e postura de bailarina. Oferta de emprego porque procuram professores e precisam importar as russas. Pensei até em um instante em mudar completamente de vida e trocar de emprego. Pensei em conhecer o Kremlin um dia.

Soube que 2016 ainda está próximo, teremos todos os cinco (agora contando comigo) que aguardar até 2020. Sim, porque se a pequena gaúcha já é campeã e com tanto amor ao redor, eu estou botando toda fé nela.

Reparo, então, que meu quiche já esfriava em minha mesa.


- Sim, moço, tenho sete minutos. Sete minutos para dar e sete minutos para receber. Nenhum problema.


Por Juliana

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