28 de novembro de 2012

Quanto vale uma pessoa?

Há uns anos atrás, lembro-me de ter assistido na TV a um debate sobre bioética. Na ocasião, chamou-me a atenção uma frase dita por uma das debatedoras, que a certo ponto já estava irritada com  o pouco efeito que surtiam seus argumentos: "vocês são todos especistas. O que lhes faz pensar que o ser humano vale mais do que uma barata?".

Recentemente tive a resposta. Não de forma filosófica, mas de forma tão concreta, tão empírica, que doeu. Desejei que aquela debatedora estivesse ali. Que o mundo inteiro visse o que eu vi. Talvez assim todos teríamos a resposta àquela pergunta. Porque, por mais estúpida que tenha sido a forma como ela foi formulada, é uma pergunta importante. E se a resposta fosse pela dignidade humana, as consequências pessoais e globais seriam devastadoras. Teríamos que rever muita coisa.


Voltei há poucas semanas de um dos países mais pobres do mundo. Lá a forma como milhões de pessoas estão vivendo se assemelha muito a dos animais. Guarda até algumas semelhanças com o estilo de vida das baratas, para o arrepio daquela debatedora.

Conheci uma senhora de 83 anos que vivia em uma barraca sem um único móvel. Dormia sobre as pedras. Defecava na grama, na rua. Tomava banho em uma tigela, na frente de todos. E não por falta de modéstia ou decoro. Mas porque não há um único banheiro no acampamento de desabrigados onde vive com outras 30 mil pessoas, todas nessa mesma situação.

Há um bairro, neste local onde estive, que está sobre um lixão. Vê-se, por todos os lados, verdadeiros montes formados por toneladas de lixo. E, no meio do lixo, já acostumadas com o cheiro pútrido, centenas de crianças magras e descalças disputando, com cabras e porcos, quaisquer restos de comida que possam encontrar no lixo.

Visitei um orfanato em que algumas das crianças estavam completamente nuas. Na rua também se vê isso. Não por costume, como algumas tribos indígenas. Mas porque não têm uma única peça de roupa. Nem uma cuequinha, nem uma meia ou uma camisetinha. Nada.
Num quarto, dormia uma criança que deveria ter uns 3 anos. Havia pelo menos umas 30 moscas sobre ela. Na boquinha, na orelhinha, sobre os olhos fechados.

Na cozinha, as panelas eram lavadas em tigelas com uma água cinza escura. Milhões de pessoas sem água encanada, sem luz.

Mas, o que isso tem a ver com o amor, que é tema deste blog? Esta foi outra lição que eu aprendi. Essas pessoas, por serem pessoas, precisam de muito mais que água, comida ou assistência médica. Elas precisam de amor. Amor para subir do grau da mera subsistência. Amor para recuperar sua dignidade. Mas, tudo isso, eu deixo para uma próxima postagem.

Maria Júlia Manzi

21 de novembro de 2012

A vida e suas escolhas


Muitas vezes rememoro passagens que parecem muito remotas como se fossem histórias antigas contadas por alguém, lidas em algum livro, vistas em um filme. Com surpresa, eu percebo que são lembranças do que eu vivi das minhas muitas vidas.

Lembro-me das cavalgadas ao lado do meu avô. Lembro-me da dedicação tentando tocar violoncelo (há tanto tempo que não toco... ). Lembro-me das aulas de dança, das aventuras subindo montanhas, ou da paixão que eu tinha pelos números, muitas coisas que não faço mais e muitas que provavelmente não voltarei a fazer.

Estas lembranças me levam a pensar em todas as possibilidades que eu tive na vida e nas muitas vidas que eu poderia ter tido. Foram estas possibilidades de aprender, de testar, de escolher e de amar cada momento que me conduziram até onde estou, com meu marido, com minha filha, com minhas novas escolhas e com minha infinidade de novas possibilidades.

Amo a liberdade de escolha e as possibilidades que a vida me deu.  Amo meu passado, meu presente e meu futuro. Amo os erros dos quais me arrependi e que me ensinaram que há sempre uma possibilidade de mudança, de fazer novas escolhas. Amo a trajetória que escolhi e que se renova a cada novo passo. E percebo a dádiva que é escolher, pois a minha vida é alimentada diariamente por minhas escolhas.

Por D.


14 de novembro de 2012

A minha mãe



A minha mãe foi sem dúvida a pessoa que mais amei e sou imensamente agradecida porque o que sou hoje devo em grande parte a ela. Se quando vivia já pensava nela, no que fazer para agradá-la, agora ela está mais presente na minha vida do que jamais esteve.
Quando rezo posso também falar com ela, porque sei que ela está bem perto de Deus.

Não há um dia em que não pense em ti, Mãe querida!

Nos seus últimos dias conosco eu tive a impressão de que era eu quem a ajudava a ser forte, a viver cada dia. Agora é ela quem me ajuda a ser mais forte e a viver melhor cada dia. Me ajuda mais do que antes, mais do que sempre me ajudou.

Saudade! 


Por J.

7 de novembro de 2012

A Cura




Que encanto manter a memória leve, lenta para a ira
Que graça poder andar sem rancor
Feliz do homem que não altera o seu itinerário movido pela ira
Nem se lança ao dia com a vingança no peito
Porque o amor “é forte como a morte”, diria o sábio
E o perdão daquele que sabe amar,
Forte como a luz que não se pode reter
E quente, como os raios do sol que o mundo ilumina
Que as geleiras derrete,
Que as paisagens modifica revelando ao fim uma beleza incomparável
Afortunado é aquele que ama mais
Que perdoa antes do amanhecer
E que vê na lágrima, uma estrela
Se afia com sua luz e se enfeita
Feliz do homem que lava o rosto com as águas dos seus olhos
Pois elas removem as marcas da noite
Aliviam o coração e preparam para a luz da aurora
Feliz aquele que persegue o perdão
Atributo indispensável do amor
O perdão passa pela memória profunda
Mas o amor encobre, encanta até o mar
Perdoar é vitoriar-se do deixar passar
E ir andando...
Vingar-se é entrar de braços abertos num rio traiçoeiro
É levar no peito um hino fúnebre
Lançar o coração na escuridão da morte.

Luana Borsari