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4 de setembro de 2013

Para você, quem é o centro do mundo?


Certa vez estava numa consulta médica desconfortavelmente (como suponho que costumam estar as pessoas tímidas) e numa tentativa de ser simpático o médico me lançou o desafio:


- Para você, quem é o centro do mundo?

Jamais tinha pensado no assunto fora das discussões do tema nas aulas de história. Fiquei um tempo em silêncio, pensando, sem conseguir chegar a uma conclusão.
Diante da minha reação, ele começou a me explicar que eu era o centro do mundo e por isso, ele e todo o resto das pessoas existiam para estar a meu serviço.


Aquela frase soou como a maior mentira que eu já tinha ouvido na vida.
Há muito tinha aprendido que o mundo existia muito bem sem a minha presença nele por séculos…

...

Um dia depois de várias reviravoltas na vida, percebi que aquela frase do médico poderia ter um fundo de verdade: morando sozinha não havia ponto de fuga, acabei por me tornar o centro (mesmo que do meu próprio mundinho) e o desafio de servir a mim mesma passou a ser uma questão de sobrevivência.


...


No fim, acho que o importante é que o amor, por si próprio e pelos outros, seja uma força maior do que as circunstâncias da vida a que estamos sujeitos...

Por Sofia

21 de agosto de 2013

No mar




Hoje de manhã quando eu estava no mar - diga-se de passagem: gelado, escuro, com ventos uivantes e uma garoa que caía na diagonal - comecei a refletir sobre a "unidade"... É engraçado, pois acredito que para cada pessoa ela se expresse intensamente de formas distintas. 

Todas as pessoas que eu conheço que "surfam" criam uma relação tão intensa com o oceano e com a prática que talvez só possa ser explicada pela "unidade". 

Estar no mar, depois do ponto onde as ondas quebram, sentado num lugar sagrado, onde nada nem ninguém vai te atingir (a não ser uma onda talvez rs), olhando para o aquela linha cinza entre o céu e o mar, esperando a série se formar, esperando a onda chegar... subitamente um peixe salta da água no horizonte e três pássaros passam ao teu lado num vôo rasante como se você não estivesse ali, como se - agora sim - você fizesse naturalmente parte da paisagem. 
É uma sensação espetacular... fazer parte de um todo, de uma unidade, e ser ao mesmo tempo tão insignificante e vulnerável. Mas se sentir imensamente grato por isso. 
...

Está frio. Você já não sente mais a ponta dos pés nem das orelhas. O mar nem está tão bom assim. O vento sul não perdoa. Mas lá ao longe você vê alguma coisa se formando... uma ondulação vindo na tua direção, para você, o universo está te dando um presente. Você começa a nadar, sente ela te puxando para trás. Você está mais alto e ela te desafia. É preciso levantar, agora. Toda a força do teu corpo te impulsiona para ficar em pé. Você sente um frio na barriga e desce, em pé, o presente que o oceano trouxe especialmente para você. Agora é só aproveitar, 5 segundos que parecem uma eternidade. Você olha para trás e teus amigos comemoram, felizes por você ter merecido aquele presente.   
...

Teus medos, ansiedades e angústias foram temporariamente lavados pelo mar. Você se sente mais completo, mais único, mais vivo. Nada te faria mais feliz naquele momento do que aquela onda.


Por Isabel Ziesemer Costa

12 de dezembro de 2012

Saber amar é saber viver!





Há muitos anos, quando eu era ainda uma adolescente, me fascinei pela seguinte frase: “Viver é amar. A qualidade do amor faz a qualidade da vida!”, cujo autor desconheço. Já foram muitas as vezes que citei esta frase e parei para pensar sobre ela.

A questão é que há algumas verdades básicas: o ser humano foi criado para amar. Apenas nós, humanos, possuímos tal capacidade. Afinal, para amar é preciso liberdade e, logo,  inteligência e vontade. O ser humano precisa amar e sentir-se amado para ser feliz, e felicidade é o que busca. Portanto, é na relação com o outro e não com as coisas que se realiza.

No entanto, somos instigados a todo momento a ter isto ou aquilo, e a ter cada vez mais, de modo que o homem é levado a pôr suas esperanças na coisas, chegando ao ponto de usar as pessoas e amar “as coisas”. O pior é que na maioria dos casos isso acontece sem a pessoa perceber... ela entra na onda. Duas ondas que atrapalham o amor e a realização do homem: “o importante é ter e não ser”, e “o individualismo/competitividade”.

Ao focar-se nas coisas e/ou centrar-se em si mesmo, o homem se descaracteriza, deixa de lado a capacidade mais refinada que possui e afasta-se de sua particularidade, a capacidade de amar. Ao contrário, se a meta é amar, tudo se redimensiona, tudo encontra um novo e mais profundo significado, e assim, uma realização mais completa. Afinal, aproxima-se de sua essência, do que o diferencia dos outros seres, pois o ser humano é um ser social e que pode aperfeiçoar-se até o último momento, ressignificando momentos, experiências, conceitos, ideais, emoções, etc.

Contudo, não é simplesmente o amor por um alguém que vai completar a vida de uma pessoa ou fazê-la melhor, mas a disposição em amar. Em amar as pessoas no geral, as boas e as não tão boas assim.

E amar significa estar atento às necessidades alheias e querer atendê-las de algum modo, seja com a escuta, seja com o conselho, seja com um favor, seja com uma gentileza, seja com um sorriso, seja com um abraço, seja com a verdade.

Significa estar aberto a conhecer e buscar as qualidades positivas do outro ao invés de centrar-se só no negativo ou na primeira impressão, significa buscar pontos em comum, significa pensar antes de responder atravessado, respirar fundo antes de mandar à merda, deixar pra conversar depois que a raiva passar, não julgar com a rapidez de um leviano.... significa também disposição para perdoar – não porque o outro merece, mas porque precisa, pois se errou, se feriu, se pisou na bola, está mostrando uma fragilidade que todos nós possuímos, pois apesar de nos acharmos muito melhores que muita gente, talvez faríamos coisas muito piores se tivéssemos a história que a pessoa tem nas costas, ou as experiências que ela vivenciou, as pessoas com quem ela conviveu etc.

Disposição para perdoar principalmente porque amar é algo que podemos aprender e ensinar, algo que não combina com mágoa, com rancor e com ressentimento, pois estes só nos aprisionam e tornam o coração pesado. Amor tem muito a ver com leveza, com paz, mas ao mesmo tempo com força, força para romper as misérias humanas, a inveja, a mesquinhez, o egoísmo, o orgulho.

Por A.

28 de novembro de 2012

Quanto vale uma pessoa?

Há uns anos atrás, lembro-me de ter assistido na TV a um debate sobre bioética. Na ocasião, chamou-me a atenção uma frase dita por uma das debatedoras, que a certo ponto já estava irritada com  o pouco efeito que surtiam seus argumentos: "vocês são todos especistas. O que lhes faz pensar que o ser humano vale mais do que uma barata?".

Recentemente tive a resposta. Não de forma filosófica, mas de forma tão concreta, tão empírica, que doeu. Desejei que aquela debatedora estivesse ali. Que o mundo inteiro visse o que eu vi. Talvez assim todos teríamos a resposta àquela pergunta. Porque, por mais estúpida que tenha sido a forma como ela foi formulada, é uma pergunta importante. E se a resposta fosse pela dignidade humana, as consequências pessoais e globais seriam devastadoras. Teríamos que rever muita coisa.


Voltei há poucas semanas de um dos países mais pobres do mundo. Lá a forma como milhões de pessoas estão vivendo se assemelha muito a dos animais. Guarda até algumas semelhanças com o estilo de vida das baratas, para o arrepio daquela debatedora.

Conheci uma senhora de 83 anos que vivia em uma barraca sem um único móvel. Dormia sobre as pedras. Defecava na grama, na rua. Tomava banho em uma tigela, na frente de todos. E não por falta de modéstia ou decoro. Mas porque não há um único banheiro no acampamento de desabrigados onde vive com outras 30 mil pessoas, todas nessa mesma situação.

Há um bairro, neste local onde estive, que está sobre um lixão. Vê-se, por todos os lados, verdadeiros montes formados por toneladas de lixo. E, no meio do lixo, já acostumadas com o cheiro pútrido, centenas de crianças magras e descalças disputando, com cabras e porcos, quaisquer restos de comida que possam encontrar no lixo.

Visitei um orfanato em que algumas das crianças estavam completamente nuas. Na rua também se vê isso. Não por costume, como algumas tribos indígenas. Mas porque não têm uma única peça de roupa. Nem uma cuequinha, nem uma meia ou uma camisetinha. Nada.
Num quarto, dormia uma criança que deveria ter uns 3 anos. Havia pelo menos umas 30 moscas sobre ela. Na boquinha, na orelhinha, sobre os olhos fechados.

Na cozinha, as panelas eram lavadas em tigelas com uma água cinza escura. Milhões de pessoas sem água encanada, sem luz.

Mas, o que isso tem a ver com o amor, que é tema deste blog? Esta foi outra lição que eu aprendi. Essas pessoas, por serem pessoas, precisam de muito mais que água, comida ou assistência médica. Elas precisam de amor. Amor para subir do grau da mera subsistência. Amor para recuperar sua dignidade. Mas, tudo isso, eu deixo para uma próxima postagem.

Maria Júlia Manzi