Desde pequena, quando pensava no meu futuro, não pensava no meu dia, num escritório que me tornaria uma profissional bem sucedida: pensava em seis e meia da tarde.
Tô procurando a chave de casa e meia dúzia de cabecinhas me apressando. “Vai logo, mamãe, quero fazer xixi!” Abri a porta e duas bolinhas rosas entraram piruetando pela sala. Talvez toque pra elas dançarem depois da janta (aprendi piano pra tocar durante a gravidez). Entrou também uma que resolveu fazer ginástica olímpica só pra acabar com o meu coração de bailarina. Mais um moleque PRETO de tanto se jogar no chão no futebol (“direto pro chuveiro, sem encostar essa mão na parede, hein!”) e um no ombro do pai, mostrando o golpe que aprendeu no judô.
Criei uns braços a mais e fiz a
janta e dei banho em metade. Hoje misturei beterraba no macarrão. “Mamãe, é da
Barbie?!” “Eca, é de menina!” Como é difícil fazer essas crianças comerem!
Sobremesa, todo mundo quer! E esse pai coruja ainda vive comprando sorvete... O
cadeirão está vazio, a bonita não saiu do colo desde que chegou em casa (acho
que estamos mimando demais essa menina).
“Anda logo, Lorenzo, só falta
você! Você e os seus irmãos ainda têm que fazer o dever de casa!” Criança
precisa de rotina. Depois da tarefa, historinha, santo anjo e CAMA!
Silêncio. Mas quem disse que
pai e mãe se esquecem dos filhos alguma hora? Como estão lindos! Espertos,
engraçadinhos, tão arteiros! Domingo a vovó não vai nem acreditar. Dente de um
caindo, de outra, nascendo...
Nascendo também está uma família. Agora, em 2013. Minha cunhada vai casar. Não segurei o choro ao pensar nesse fruto tão bonito do matrimônio que é a vida, o amor. Disfarçado na rotina em forma de risadinhas.
B.M.