- Um cappuccino e um
quiche, por favor.
- Você teria 7 minutos
para que eu aqueça o quiche? Algum problema?
Eu me sentei na mesa um pouco
atônita para aguardar. Aquela velha e recorrente sensação de um mundo onde
ninguém tem tempo me deixava um pouco enjoada.
Ao meu lado se senta uma mulher,
seu marido e o filho. A mulher bordava uma roupinha de bailarina em pleno
aeroporto. Pedia a opinião do marido. Deveria por mais ou menos babados? Achei
a imagem, no mínimo, poética. Com as parcas opiniões do marido e com o meu
diploma de bailarina na minha bagagem de vida, senti-me na obrigação de dar a
minha.
Não era um collant de ballet, mas
de atleta de ginástica, o que, de forma alguma, tornava minha opinião
irrelevante. Falei sobre minha mãe que também me aguardava nos ensaios e
bordava as minhas roupas. Lembrei-me da minha vizinha que bordava as roupas da
seleção. Sim, eu a conheço. Sim, a seleção treina no Paraná, isso mesmo, lá no
interior. Achei que fosse roupa de patinação. Tem também a esposa do meu primo
que treina campeões. Eu me recordava da minha herança interiorana, da minha
herança de bailarina, da minha herança de família. Da minha bagagem de sim e da
minha bagagem de não.
Compreendi um pouco mais sobre o
amor ao saber que os três dirigiam por 20 km pra ir e 20 km para voltar todos os
dias até ali ao aeroporto para aguardar a menininha que treinava de segunda a
sábado, das 13:30 h às 20:30 h. “Isso que hoje o mais velho não pode vir” era o
que me falava a mãe. Nenhum deles estava ali para viajar assim como nenhum
deles estava ali para treinar. Estavam apenas para, aguardando, apoiar.
Entendi que aquele sonho de ser
campeã era um sonho e um empenho de pelo menos mais quatro pessoas. Família
vezes quatro, amor quadruplicado.
Ganhei elogios pela minha cara e
postura de bailarina. Oferta de emprego porque procuram professores e precisam
importar as russas. Pensei até em um instante em mudar completamente de vida e
trocar de emprego. Pensei em conhecer o Kremlin um dia.
Soube que 2016 ainda está
próximo, teremos todos os cinco (agora contando comigo) que aguardar até 2020.
Sim, porque se a pequena gaúcha já é campeã e com tanto amor ao redor, eu estou
botando toda fé nela.
Reparo, então, que meu quiche já
esfriava em minha mesa.
- Sim, moço, tenho
sete minutos. Sete minutos para dar e sete minutos para receber. Nenhum
problema.
Por Juliana