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4 de setembro de 2013

Para você, quem é o centro do mundo?


Certa vez estava numa consulta médica desconfortavelmente (como suponho que costumam estar as pessoas tímidas) e numa tentativa de ser simpático o médico me lançou o desafio:


- Para você, quem é o centro do mundo?

Jamais tinha pensado no assunto fora das discussões do tema nas aulas de história. Fiquei um tempo em silêncio, pensando, sem conseguir chegar a uma conclusão.
Diante da minha reação, ele começou a me explicar que eu era o centro do mundo e por isso, ele e todo o resto das pessoas existiam para estar a meu serviço.


Aquela frase soou como a maior mentira que eu já tinha ouvido na vida.
Há muito tinha aprendido que o mundo existia muito bem sem a minha presença nele por séculos…

...

Um dia depois de várias reviravoltas na vida, percebi que aquela frase do médico poderia ter um fundo de verdade: morando sozinha não havia ponto de fuga, acabei por me tornar o centro (mesmo que do meu próprio mundinho) e o desafio de servir a mim mesma passou a ser uma questão de sobrevivência.


...


No fim, acho que o importante é que o amor, por si próprio e pelos outros, seja uma força maior do que as circunstâncias da vida a que estamos sujeitos...

Por Sofia

8 de maio de 2013

Meu corpo e eu




Acho engraçado quando algumas mulheres dizem: “O corpo é meu, me respeite.” Pra mim a coisa é ainda mais radical: “O corpo SOU eu”, ou, talvez melhor: “Eu sou, dentre várias coisas, também o meu corpo.” O meu corpo é a primeira mediação entre mim e o mundo, entre mim e as outras pessoas.  Eu me apresento aos outros, primeiramente, como corpo. Isto é, os outros, antes de tudo, me veem, percebem a minha presença material, e só depois tomam conhecimento dos meus pensamentos, crenças, sentimentos – e do mesmo jeito que não exponho o meu pensamento (ou todos os meus pensamentos) a qualquer pessoa, também tem coisas do meu corpo que prefiro guardar.

O corpo é, portanto, uma dimensão importantíssima do meu ser e uma dimensão inalienável. E por isso ele não é simplesmente minha posse (como são as minhas roupas, os meus livros e... os meus livros), mas é uma parte inseparável do que eu sou.

Respeito muito as feministas e me considero uma delas em certo sentido (não sei se o sentimento de identificação seria recíproco...), mas acredito que na luta contra a violência e em favor do respeito ao corpo das mulheres algumas das feministas estão perdendo uma parte fundamental da história... (algumas só, outras sacam perfeitamente bem do que se trata). E a parte fundamental é que a opressão a que as mulheres foram (e ainda são) sujeitadas se deve grandemente a uma mentalidade que facilmente dissocia o corpo feminino da pessoa.

Essa dissociação ou alienação atinge muito menos os homens. Podem ver: é muito mais raro que eles se deparem com certas partes da sua anatomia ilustrando peças publicitárias, capas de revista etc. Os homens conseguem dizer, com muito mais tranquilidade, que eles são o seu corpo. Porque eles de fato se sentem assim (ou, pelo menos, a maioria parece se sentir. É claro que há exceções e pra muitos homens também é difícil lidar com a integração entre corpo e pessoa). Já nós mulheres... Quantas vezes não sentimos que o nosso cabelo, as nossas medidas, as nossas formas estão muito aquém e são muito insatisfatórias diante daquilo que somos ou gostaríamos de ser? Esse sentimento é justamente o sintoma de um imaginário que, ao alienar o corpo feminino da pessoa, acaba por encarar esse corpo como uma posse. E isso é muito perigoso, pois uma posse pode ser exercida pelo seu dono ou dona legítimos, mas também pode ser vendida, cedida, invadida e tomada.

Prefiro encarar o meu corpo não como minha posse, mas como eu mesma. Porque é assim que eu gostaria que me olhassem: eu. 

Por Hannah