24 de abril de 2013

Derramar no céu


Lembro-me vagamente das aulas de física sobre os estados da matéria. 
O estado gasoso sempre me intrigou: “partículas que se deslocam livremente”.
Se elas se deslocam livremente, como podem formar “um único corpo”?

Não entendo muito de física, mas me lembro de um “campo de força” que ligaria as moléculas dos gases entre elas, permitindo sua livre movimentação sem acarretar numa desunião.


Levando a física do universo, já que sua maior parte é formada por gases, para a nossa vida, vejo o amor como o campo de força que nos liga, o único limite possível da nossa liberdade.

Na vida, deveríamos almejar o estado gasoso: deixar para trás sais e minerais, derramar no céu, evaporar!

http://www.youtube.com/watch?v=IWXTisH11-Y (Little Joy - Evaporar)



Por Alice

17 de abril de 2013

O amor que aprendi nas salas de aula

Outro dia, conversando com um colega, contava a ele sobre as muitas coisas que já vivi durante esses anos em sala de aula.

Mais do que ensinar meus alunos a falar outra língua, acho que fui eu a que aprendi com eles sobre o amor e a vida.

Já recebi, em uma avaliação de final de semestre, um longo texto de uma aluna que me contava como tinha sido a sua vida, saindo do campo, chegando à cidade, aprendendo a escrever...

Já tive que tentar responder à pergunta: "o que a gente faz quando já não pode sonhar?", feita por um aluno que tinha recebido o diagnóstico de câncer da esposa.

Já ouvi um: "a professora tem cinco minutinhos para mim?", para escutar uma aluna na surpresa da descoberta da maternidade.

Já atendi um telefonema, no meio da tarde, com uma voz entre lágrimas que me dizia: "o exame deu positivo, tenho uma doença incurável".

Meu colega me disse que essas coisas jamais tinham acontecido com ele. Desde então, comecei a pensar por que meus alunos tinham tido tanta confiança em mim, por que contaram coisas tão íntimas, para aquela que era apenas a sua professora.

Não sei a resposta e talvez nem exista uma resposta objetiva. Só sei que cada um deles me ensinou a ser melhor pessoa, a saber ouvir, a entender que a vida não é sempre o que a gente imaginou, mas nos tem reservadas boas surpresas. E, acima de tudo, que o amor e a confiança nascem onde e quando menos esperamos.

A propósito, aquela aluna que veio do campo agora é uma excelente professora; a esposa do meu aluno melhorou e, juntos, realizaram o sonho de fazer uma longa viagem pela Europa; a jovem universitária é hoje uma grande mãe de um cisco de gente e a doença do meu aluno está controlada e ele anda por aí, cheio de projetos.

Por Nylcéa. 



10 de abril de 2013

Um Amor que passou dos talheres e foi parar nas panelas



Bom, creio que tudo tenha começado pelo meu nascimento. Em 1984 nasce a filha de um casal com raízes um tanto quanto diferentes. Ele descendente de italianos e ela de alemães com paraguaios, mas os dois com uma coisa em comum, super mães - aquelas que cozinham, costuram, cuidam, lavam, passam - verdadeiras donas de casa. E a tradição era: sábado almoço com a família na casa da minha avó paterna e domingo na casa da avó materna.
Sábado significava diversão - pois sabia que minha avó colocaria um banquinho em frente ao fogão e lá estaria eu mexendo polenta, ou chegaria e ela estaria na sua produção de macarrão e eu iria esticá-los pela casa. Domingo era a certeza que iria me deliciar à mesa, comer a tão especial farofa doce, o tortei com molho vermelho, a sobremesa de suspiro, ou até mesmo o sorvete napolitano com calda de caramelo Kibon.
E o amor pela comida me pegou pela boca. Nada como ter um garfo e uma faca na mão. O prazer em comer foi se evidenciando a cada ano, com isso os quilinhos a mais também foram aparecendo. Aprendi direitinho com minhas avós o básico. E como o amor por comer é compartilhável, na adolescência já colocava meus ensinamentos em prática. Me reunia com minhas amigas e cozinhava para elas, minha especialidade era Fondue e os encontros acabavam sempre com muitas gargalhadas.
Comecei a conhecer o mundo e apreciar ainda mais a comida. Tinha vontade de comer coisas diferentes, e a curiosidade de aprender a fazer isso ou aquilo foi crescendo dentro mim até eu decidir levar esta brincadeira a sério. Foi uma paixão avassaladora - fazer a comida e comer depois, era simplesmente uma experiência extraordinária. Virou profissão e junto com isso a paixão amadureceu para um verdadeiro amor.
Hoje nada me faz mais feliz que colocar uma expressão de prazer no rosto de uma pessoa por estar comendo uma comida que a faz lamber os dedos, raspar o prato ou pedir bis.

Por Clarice G.


3 de abril de 2013

L'Amour




A primeira vez que eu pisei na Índia tinha 25 anos e voltaria para o Brasil depois de oito meses. Chegando, meu primeiro pensamento foi: “aonde eu vim me meter dessa vez”. Pânico, confusão, medo e muito, muito calor.

Para os que não sabem, sendo bem genérica e grosseira, a Índia é outro planeta no Planeta Terra, algo que defino como países impossíveis. Morei no sul daquele país, numa cidade longe de ser cosmopolita como Mumbai ou Nova Délhi.  Era realmente o fim do mundo.

Passados cinco anos desde essa aventura, passei a entender a célebre frase de Nietzsche, que diz que é preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela brilhante. No meu caso, a estrela brilhante se chamava Amor. Eu encontrei o Amor em um lugar sem esperança e quando não estava procurando. Não tinha tempo de pensar nisso, estava muito ocupada sobrevivendo. E o Amor, como todas as coisas de Deus, não é óbvio.

Essa estrela brilhante transformou oito meses em cinco anos. Minha mala só com roupas de verão teve de ser rearranjada para enfrentar temperaturas europeias do mês de novembro. Não voltaria mais ao Brasil. Minha nova morada seria na Bélgica, país que até então só conhecia pelo seu tamanhinho e sua cerveja, mas que jamais poderia imaginar que lá moraria sem ao menos ter visitado. Pois bem, o Amor. Virei uma “Love refugee” como meus amigos gostavam de falar. Troquei um caminho certo por um desconhecido. Mas, de novo, eu gosto não só de países impossíveis, como coisas impossíveis. Hoje, do “alto” dos meus 31 anos, me pergunto de onde saiu tanta coragem. 

Aí, olho para as minhas costas e vejo uma cicatriz que diz “a sabedoria não está na razão, mas no Amor”. Foi do Amor que veio essa coragem.

Hoje, estou ansiosíssima, esperando que onze longos dias passem rápido. Porque, dessa vez, eu vou receber meu refugiado, que vem ficar ao meu lado, deste lado do mundo, lugar que eu chamo de minha casa. 


Por Letícia