19 de dezembro de 2013

"E aí? Tranquilo? Qué uma ajudinha aí?”




Quando ouvi isto, confesso que a frase “embelezou” minha tarde que se iniciava. Um homem estava junto ao carro com problemas na via, foi abordado com um caloroso: “E aí? Tranquilo? Qué uma ajudinha aí?”.

Percebi que algumas pessoas convivem mais com esta frase que outras, vai de acordo com o ambiente em que convive, mas a beleza da “ajudinha” é quando ela é gratuita, a ajuda pelo simples prazer de ajudar, e ajudar é sim um prazer.

A lei, constituição, deveres e direitos, trazem ordem à sociedade, mas é tão bom saber que alguém vem me auxiliar sem que eu precise assinar um contrato de direitos e deveres... Isto dá um tom de que fazemos parte não de uma grande empresa mundial, mas de uma família mundial, somos humanos, gente, pessoas, e pessoas não vivem somente de deveres e direitos, mas de amizade e companheirismo também. E, além disso, acredito que “ajudinhas” são questão de justiça, devo também oferecê-la a outros, pois a vida me enche de “vai uma ajudinha aí?” Alguém poderá dizer que a vida não deu tréguas, mas que ela lutou duramente por tudo o que teve... Aí eu pergunto: “Será mesmo?”. É só levá-la a voltar no tempo ou a olhar melhor à sua volta, sair um pouco da esfera em torno ao próprio umbigo, e perceber que a vida é cheia de “ajudinha aí”, além disso, se não for por fazermos parte da mesma família humana, onde fazer algo pelo outro é dever natural, ou virtude adquirida, podemos e devemos ajudar gratuitamente os outros por questão de justiça, pra devolver à vida todas as vezes em que, através das pessoas, ela nos disse: “E aí? Tranquilo? Qué uma ajudinha aí?”


Marcia


11 de dezembro de 2013

E se o tempo passa de qualquer forma...




Hoje faz 3 meses que coloquei minha vida dentro de meia dúzia de sacos plásticos a vácuo e fiz tudo caber dentro de dois volumes de 32kg. Faz 3 meses que deixei a 8300km minha casa, meu amor, família, amigos, cães, conforto, roupa lavada, sopa pronta no fogão e ainda  transformei um curso que já era longo em algo 12 meses maior. Vendo a minha antiga vida passar, sabendo que ela não vai esperar por mim e não há mais caminho de volta.


Que bom.


Que bom que tive a coragem que precisava, na hora que precisei. Que faço isso com o apoio da minha família, amor e amigos. E tenho essa chance que nem todos têm. Nunca mais serei a mesma e fico feliz com isso.


Aprendi que as “pessoas”, principalmente os “momentos com as pessoas”, são mais importantes que as “coisas”. Aprendi que usar por favor, obrigado e com licença não nos deixam mais pobres, muito pelo contrário. Que uma instituição de ensino que se preze precisa, acima de tudo, respeitar seus alunos. E que, de forma mútua, os alunos devem ter o mais imenso respeito pelos professores. Que diversas culturas podem e devem viver em harmonia num mesmo ambiente, sem rótulos, sem segregações e sem a necessidade de abrir mão da sua pátria de origem. Vejo também, com tristeza, que meu país está mais de 50 anos atrasado na cultura do esporte, e isso me entristece de verdade. O país do futebol, e das olimpíadas, não tem hoje o que eles já tem aqui (Canadá) há décadas. Mais uma prova que nossos atletas, técnicos e profissionais do esporte são verdadeiros guerreiros por ainda assim chegarem tão longe.


Vejo meus próximos 9 meses de forma muito promissora e especial. Quero aprender alguma coisa, mesmo que pequena, todo dia. A saudade é grande, mas o tempo está passando muito rápido. E se o tempo passa de qualquer forma, por que não fazer alguma coisa diferente com ele?  


“Uma mente que se abre a uma nova ideia jamais retorna ao seu tamanho original.” (A. Einstein)

Isabel Ziesemer Costa

4 de dezembro de 2013

Família II


Um. Um. Uma. Um. Uma. Uma. Um.
Uma e - eu.
(nóve? sim
do mesmo pai e da mesma- sim.)
A moça que trabalha, os cuidadores
nada de cachorros, e o jardim?
e a mãe que trata de tudo

O balanço, o sofá, a cama
o cafezinho, trabalho, trabalho
- mas primeiro a oração
o sorvete com doce de leite,
a música tocando todo sempre
e a mamãe que cuida de tudo

Os exames, o gás, o jardineiro
os médicos dia sim dia não
a mágica malabarista de tirar daqui e pôr ali
o dinheiro. Mas a generosidade o ano inteiro
/Faz o que deves, está no que fazes. Cumpre o pequeno dever de cada instante. 
Transforma em decassilabo heroico a prosa diaria/
a minha mamãe que cuida de nós

Drummond e M.