27 de fevereiro de 2013

Um gato na janela


Marc Chagall, Paris par la fenêtre

Faz pouco tempo que eu descobri que sou completamente apaixonada pela natureza. Através dela é fácil ver como a vida se manifesta a todo momento, em toda a sua sabedoria. São tantas formas e cores diferentes que me encantam todos os dias. Entre todas as plantas e os animais, os meus preferidos são os gatos. Amo gatos. Eles me fazem tão feliz. Acho que eles (e os cachorros também) são um presente de Deus. Eles são um exemplo de amor, carinho e alegria. Infelizmente ainda não posso ter gatos na minha casa. Então me contento em assistir, pela janela do apartamento, a brincadeira dos gatos aqui da vizinhança.

Esses dias um desses gatos me fez muito feliz.
Nesse dia eu estava muito triste. O peito apertava, as lágrimas corriam pelo rosto. Eu me sentia sozinha. Pedi muito a Deus para me dar forças e equilíbrio para lidar com as dificuldades do dia a dia. Entre as lágrimas, olhei pela janela do meu apartamento e o meu coração se encheu de alegria quando eu vi o gato da vizinha.

Aquele dia triste aconteceu no inverno. Faziam vários dias que eu não via os gatos. O frio era tanto que nem eles tinham coragem de se aproximar da janela – uma das partes mais frias da casa.

Quando eu vi aquele gato preto brincando na janela o meu dia se transformou. Passei a rir das brincadeiras dele. Nevava e fazia frio e, mesmo assim, o gato estava todo feliz, brincando na janela.

Ver aquele gato foi como um presente de Deus para mim. Eu voltei a sorrir e deixei a tristeza de lado. A natureza é bonita demais e ficar triste diante de uma forma de vida tão fofinha era muito pequeno.


E para você, o que faz você sorrir, conforta o coração e ajuda a esquecer as dificuldades?

Para mim, os gatos na janela ajudam um bocado!

Por Lorena

20 de fevereiro de 2013

Português, Inglês, Italiano, Silêncio...

Sempre escutei falar que o inglês é a “língua universal”. 
“Sabendo inglês, você se vira em qualquer lugar!”
“Inglês é básico! Todo mundo tem que aprender!”
O problema, é que com tanto falatório, o mundo desaprendeu aquela que deveria ser “a língua universal”: o silêncio.
Li uma vez que o cinema precisou do som para descobri-lo, já eu precisei cruzar o oceano para aprendê-lo.
Il. era loira, tinha uma pele bronzeada, olhos azuis e impecáveis dentes brancos. Longe de aparentar seus 40 anos, cozinhar era seu dom, e a simpatia, uma de suas muitas qualidades.
Foram vários dias com Il. por perto.
Educada e muito bonita, ela me contou que era ucraniana, mas que morava em Praga. Que era casada, mas que morava com a sogra. Que tinha uma filha de 7 anos, que já havia viajado pela Itália, mas que gostaria de conhecer o Brasil.
Il. não falava português, nem espanhol, muito menos italiano. No inglês, arriscava uns “name”, “year”, “good!”. Já o Tcheco, sabia tudo! (Acredito eu!)
Comigo era apenas no português ou no italiano. Espanhol me deixava no zero a zero. Com o inglês enferrujado, não saia muito do “my name is”. E o Tcheco??? Nem no “name”.
A saída era o silêncio!
Agora eu te pergunto: Posso colocar no currículo?

Por Helena Salgado


13 de fevereiro de 2013

Desafios do Sim

Algumas vezes é fácil responder sim, como quando nos perguntam se queremos trocar o trabalho por um dia na praia; quando fazemos algo por alguém que temos certeza que nos elogiará; quando nos oferecem chocolate (sabendo que gostamos muito de ganhar chocolate); quando sentimos uma sensação de que seremos felizes para sempre.

Outras vezes não é tão fácil dizer que sim, como quando nos oferecem algo para comer de que não gostamos; quando temos que limpar a sujeira que não fizemos; quando temos que acordar a cada dia para trabalhar num lugar que detestamos; quando deixamos nossa opinião de lado e aceitamos a do outro.


Na vida o nosso sim é requisitado em diversas circunstâncias entre alegrias e pesares.
Muitas vezes, no enrolar do cotidiano, nos esquecemos de que o amor brota do equilíbrio entre o “sim” para si e o “sim” para os outros.

Acho importante não perder de vista o fato de que não nos sentiremos felizes para sempre depois de dizer um sim. Isso porque o equilíbrio do “sim” é um desafio constante que requer de nós mais que um pronunciamento momentâneo. Requer uma decisão diária de viver o amor. Dessa decisão encontramos força para dizer que sim mesmo às circunstâncias em que nos sentimos momentaneamente engolindo um remédio muito ruim, mas que nos cura de uma doença muito pior (esse mal de se achar o centro do mundo).

Por Alice

6 de fevereiro de 2013

Chocolate meio-amargo


Acabo de ler esse conto incrível do David Foster Wallace (DFW, daqui pra frente) chamado “A pessoa deprimida”. O DFW é um autor americano que escreve insanamente bem e que eu, pra minha vergonha e tristeza (como, até agora, consegui viver sem ele?!), conheço há tão pouco tempo que nem sou capaz de pronunciar mais nada a respeito do sujeito a não ser esse juízo bobo e encantado: o cara escreve bem pacas.

Pois esse conto fala de uma mulher depressiva, tão obcecada com seu próprio estado depressivo que a maior parte da sensação de sufocamento que o conto te provoca (e ele é genialmente construído numa rede de comentários e notas de rodapé num jargão psiquiátrico conscientemente irônico e exaustivo) provém antes do autocentramento sufocante, onipresente e pesadelístico dessa personagem (cuja sensação você, leitor, melhor experimenta do que racionalmente compreende) do que de uma descrição objetiva ou razoável da doença de que ela sofre. A genialidade está, me parece, em abolir qualquer chance de julgamento objetivo: no final ficamos mesmo sem saber se a pessoa deprimida em questão merece nossa ilimitada compaixão e tolerância inesgotável ou se na verdade o melhor que podemos fazer por ela é dar-lhe, isso sim, um tremendo chacoalhão e mandá-la parar de ser tão irritantemente infantil e autocentrada e depois mandá-la praquele lugar, quem sabe.  O genial é que essa impossibilidade de julgar que nos toma enquanto leitores é justamente o que caracteriza (ou uma das coisas que caracterizam) o estado de alguém que sofre de depressão. A incapacidade ou imensa dificuldade de tomar decisões, ao lado de um autocentramento que paralisa e esgota, é um traço frequente no quadro clínico da pessoa deprimida. Isso por um lado. E, por outro, a impossibilidade (ou pelo menos dificuldade) de julgar, junto com algum nível de excesso de preocupação com o próprio estado psicológico, parece ser uma característica mais ou menos generalizada da vida adulta urbana na pós-modernidade da qual poucos de nós conseguem escapar (e agora vou ali esfregar pimenta na língua pra ver se paro de falar bobagem enrolada).

Eu não tenho depressão e também não tenho interesse em ter, obrigada – às vezes desconfio que exista essa espécie de mercado sutil (ou nem tão sutil) pronto pra te empurrar algum distúrbio psicológico com o qual você pode etiquetar algum aspecto mais espinhoso e idiossincrático da sua vida e assim supostamente amenizá-lo ou resolvê-lo – não tenho nenhum interesse em ter... mas muitas vezes é exatamente o mesmo tipo de indecisão e autocentramento paralisante que me atormenta e, ao mesmo tempo, faz eu me sentir especialmente única, até eu enfim me dar conta de que essa indecisão e esse autocentramento não são nada idiossincraticamente meus e nem misticamente me escolheram pralgum papel ou missão pra qual sou insubstituível, mas são sim, a indecisão e o autocentramento, coisas, tchan-tchan-tchan-tchan, meramente humanas. O que não nos torna menos especiais e idiossincráticos, a nós, que desse dado generalizado padecemos (do mesmo modo que compartilhar outros dados comuns ao gênero humano, tais como ter fome, frio e sono, não nos faz menos especiais, únicos, insubstituíveis, cada um de nós. Porque eu sinto fome igual a todos vocês, mas às vezes a minha fome só pode ser saciada por uma combinação exata e quase irreproduzível de brigadeiro, bolacha maisena e geleia de damasco. Aberrantemente único. Brincadeira[1].)

(E não parei de falar bobagem enrolada... tsc.)      

O que o DFW acaba de me fazer pensar com esse conto genial dele é que pra cada vez em que eu me sinto linda e insuportavelmente única por, de um jeito supostamente muito estranho, só conseguir aplacar alguma angústia existencial de origem variada com um pedaço de chocolate meio-amargo eu poderia, ao invés disso, ter perdido meio minuto considerando que alguém, nalgum outro recanto, sente talvez uma angústia mais afiada que a minha e pensa em uma forma ainda mais inédita e estranha de aplacá-la. E com isso eu entenderia um pouco mais do mundo.  

Nota: DFW sofria de uma depressão profunda e crônica desde a adolescência e que foi a causa da sua morte aos 46 anos de idade. A experiência pessoal da doença a meu ver só tornam o conto “A pessoa deprimida” ainda mais pungente, complexo e interessante. Este meu texto não tem, portanto, qualquer intenção de desqualificar as pessoas que sofrem com a doença em questão e muito menos questionar a existência médica e real deste e de outros distúrbios psiquiátricos. No mais, leiam o conto dele (além de tudo o que dele quiserem e puderem encontrar...).

Por Hannah




[1] Ou melhor, quase verdade. Na real a combinação que sacia a minha fome exclusiva inclui ainda um pedaço de chocolate meio-amargo em estado de semi-liquefação. 

DFW