31 de outubro de 2012

Toda história merece ser contada



O que eu sempre mais quis na vida foi contar histórias. Mas dezenas de pequenos medos idiotas vêm me travando nesses tempos e me desviando do meu desejo. O medo adolescente de engordar (existe essa ideia ridícula que associa qualquer nível de sobrepeso, principalmente o feminino, à infelicidade insanável...), o medo jovem de envelhecer (pro Tártaro essa outra ideia estúpida que acredita que envelhecer seja algum tipo de crime ou doença!), o medo adulto de não arranjar trabalho (ter o que comer continua sendo, legitimamente, uma preocupação fundamental de qualquer pessoa, o problema é quando as coisas são de um jeito que essa preocupação leva a excluir ou pelo menos a sufocar todas as demais), o medo escolar de não aprender tudo o que eu devo (e quantas vezes decorei um monte de coisas pra no meio delas esquecer: mas o que era mesmo que eu estava tentando aprender?), o medo exibicionista de desagradar, o medo carrasco de fracassar, o medo triste de não amadurecer e, talvez acima de todos, o medo traiçoeiro, feminino e humano de ficar só. 

Pois bem, desde criança eu sei que preciso contar histórias, mas venho atrasando essa tarefa desde então. Já usei boas e más desculpas (dias muito frios, noites muito quentes, deveres mais urgentes), mas a verdade é que a única coisa que me trava são os medos. E esses medos todos, quando se juntam, se transformam em algo assustador e aparentemente invencível: a incapacidade de contar a história da minha própria alma.

Contar a história da própria alma é fundamental, mas você só é capaz de fazer isso quando percebe que está com os demais. E que é com eles, por eles e para eles que você pode – e deve – contar essa história.

Para mim, a minha vocação de contar histórias só se destrava na medida em que eu consigo contar a história da minha alma, isto é, na medida em que eu sei viver a minha vocação primeira ao amor – na medida em que eu sou capaz de realizar, a cada dia, o milagre de estar com os demais.

Acabando de superar a fase dos vinte e poucos anos, esses tempos me peguei me achando velha e muito chata pra começar qualquer coisa que valesse a pena (era um momento de estupidez rotunda e por isso sequer me lembrei de que já tenho começadas algumas várias coisas muitíssimo empolgantes e que valem tremendamente a pena...). Tive, por um instante, vontade de fazer seis coisas (não necessariamente compatíveis e não necessariamente nessa ordem): 1) chutar o balde e dar o cano em todos os compromissos da semana; 3) comer uma panela de brigadeiro inteira sem dividir com ninguém; 3) raspar o cabelo e ir viver nas montanhas sozinha; 4) ler todos os livros do mundo; 5) passar o resto da vida morando cada ano num país diferente; 6) me trancar no quarto pelo resto do dia. No final tomei vergonha na cara e saí pra encontrar uma amiga, que era o que a minha agenda dizia que eu tinha de fazer, afinal. E depois de um dia normal bem vivido entre as pessoas, me lembrei: Não existe história que não valha a pena – porque não existe pessoa que não valha a pena. Toda história merece ser contada. Inclusive a de hoje.

Por Hannah

26 de outubro de 2012

O bem de si e o bem do outro

Nesses 25 anos de casada pude experimentar com propriedade, no dia a dia, a afirmação de Aristóteles: "Amar é querer um bem para o outro." Percebo agora o quanto lutar para viver segundo esse princípio valeu a pena. Não vou dizer que foi fácil, pelo contrário, várias vezes custou muito, pois nem sempre o amor vem acompanhado de um sentimento agradável.

Quando a minha primeira filha nasceu a alegria foi imensa, meu marido e eu ficamos encantados com aquela criaturinha, que para nós era a mais linda do mundo! Mas as primeiras dificuldades surgiram logo na amamentação. Foi bastante dolorido, mas a vontade de amamentar minha filha era tão grande, pois sabia que era melhor para ela, que suportei as dores e continuei amamentando. Percebi, com esta experiência, que o amor não é um sentimento, mas um ato da vontade, que pode ser acompanhado por um sentimento agradável ou não.



Este é só um pequeno episódio que faz parte do meu aprendizado sobre o amor. Há centenas de outros em que me alegrei, perdoei, ajudei, corrigi, cuidei, curei, recordei, sofri e me compadeci. Como consequência me desenvolvi como ser humano e percebi que querer o bem do outro é querer também meu próprio bem.

Por E.

17 de outubro de 2012

O grande "sim" e o constante sim

 Eu sou muitas coisas: filha, neta, irmã, prima, amiga, mas não sou esposa.

 Às vezes a gente fica com a impressão de que a vida da mulher é isto: uma corrida para se tornar esposa.

Ser esposa é, sem dúvida, uma grande expressão de amor. Acredito, contudo, que a hierarquia do amor não deve ser socialmente determinada, mas sim individualmente. Isto é, não devemos necessariamente seguir o que a sociedade espera que façamos (casar-se! só por ser este o "sonho de toda mulher"), mas aquilo que percebemos que devemos fazer em cada circunstância.

Vejo a vida como um longo caminho em espiral.  Durante nossas andanças nós o vamos preenchendo com ladrilhos de diferentes cores. Cada ladrilho é uma resposta diferente a um desafio diferente, uma chamada a amar, antiga ou nova...
Em cada momento a vida nos convida a amar, seja como filha, como neta, como irmã, como prima, como amiga, como tia, como esposa, como mãe.

Penso que o grande “sim” das mulheres não é o do altar, mas o constante “sim” de cada instante, através do qual possibilitamos a vivência e a renovação do amor em todas as relações que nos tocam...

   Por que compor um caminho monocromático se  o mundo nos oferece tantas cores de ladrilhos?


Por Alice