19 de dezembro de 2012

As pedras do caminho



No tempo em que meu avô trabalhava numa siderúrgica era responsável pela limpeza dos fornos.
Todas as noites, ele era assombrado com o pesadelo de que ainda estava dentro dos fornos quando acionavam a sirene avisando que estes iriam ser acesos.
Um dia, quando estava dentro dos fornos, encontrou uma pedra e, do trabalho que lhe inspirava pesadelos, fez arte.

Por anos, passei pela pedra esculpida sem sequer imaginar o seu significado mais profundo.
Quando ele nos contou essa história, fiquei pensando no que escondem as pedras que encontramos pelo caminho...
Sem dúvida, as pedras incomodam e, muitas vezes, causam sofrimento...mas também podem ter um grande potencial de arte. Arte pensada e realizada na vivência do amor pela jornada de cada dia.

Por Mari

12 de dezembro de 2012

Saber amar é saber viver!





Há muitos anos, quando eu era ainda uma adolescente, me fascinei pela seguinte frase: “Viver é amar. A qualidade do amor faz a qualidade da vida!”, cujo autor desconheço. Já foram muitas as vezes que citei esta frase e parei para pensar sobre ela.

A questão é que há algumas verdades básicas: o ser humano foi criado para amar. Apenas nós, humanos, possuímos tal capacidade. Afinal, para amar é preciso liberdade e, logo,  inteligência e vontade. O ser humano precisa amar e sentir-se amado para ser feliz, e felicidade é o que busca. Portanto, é na relação com o outro e não com as coisas que se realiza.

No entanto, somos instigados a todo momento a ter isto ou aquilo, e a ter cada vez mais, de modo que o homem é levado a pôr suas esperanças na coisas, chegando ao ponto de usar as pessoas e amar “as coisas”. O pior é que na maioria dos casos isso acontece sem a pessoa perceber... ela entra na onda. Duas ondas que atrapalham o amor e a realização do homem: “o importante é ter e não ser”, e “o individualismo/competitividade”.

Ao focar-se nas coisas e/ou centrar-se em si mesmo, o homem se descaracteriza, deixa de lado a capacidade mais refinada que possui e afasta-se de sua particularidade, a capacidade de amar. Ao contrário, se a meta é amar, tudo se redimensiona, tudo encontra um novo e mais profundo significado, e assim, uma realização mais completa. Afinal, aproxima-se de sua essência, do que o diferencia dos outros seres, pois o ser humano é um ser social e que pode aperfeiçoar-se até o último momento, ressignificando momentos, experiências, conceitos, ideais, emoções, etc.

Contudo, não é simplesmente o amor por um alguém que vai completar a vida de uma pessoa ou fazê-la melhor, mas a disposição em amar. Em amar as pessoas no geral, as boas e as não tão boas assim.

E amar significa estar atento às necessidades alheias e querer atendê-las de algum modo, seja com a escuta, seja com o conselho, seja com um favor, seja com uma gentileza, seja com um sorriso, seja com um abraço, seja com a verdade.

Significa estar aberto a conhecer e buscar as qualidades positivas do outro ao invés de centrar-se só no negativo ou na primeira impressão, significa buscar pontos em comum, significa pensar antes de responder atravessado, respirar fundo antes de mandar à merda, deixar pra conversar depois que a raiva passar, não julgar com a rapidez de um leviano.... significa também disposição para perdoar – não porque o outro merece, mas porque precisa, pois se errou, se feriu, se pisou na bola, está mostrando uma fragilidade que todos nós possuímos, pois apesar de nos acharmos muito melhores que muita gente, talvez faríamos coisas muito piores se tivéssemos a história que a pessoa tem nas costas, ou as experiências que ela vivenciou, as pessoas com quem ela conviveu etc.

Disposição para perdoar principalmente porque amar é algo que podemos aprender e ensinar, algo que não combina com mágoa, com rancor e com ressentimento, pois estes só nos aprisionam e tornam o coração pesado. Amor tem muito a ver com leveza, com paz, mas ao mesmo tempo com força, força para romper as misérias humanas, a inveja, a mesquinhez, o egoísmo, o orgulho.

Por A.

5 de dezembro de 2012

Entre estar só e ser só

A base do amor é a liberdade, porque a reciprocidade do amor depende da liberdade de ação de cada pessoa.
Cada pessoa tem um ponto de vista do mundo que a cerca.

Por que nos é tão dificil expandir os horizontes? Porque nossa visão é tão restrita?

Por que tendemos a ser tão sensíveis a nossa própria a solidão e na maior parte das vezes não nos sensibilizamos (ou sequer percebemos) a solidão dos outros?
Seria uma limitação da nossa física-corporal ou o modo como optamos em viver nossa liberdade de amar?




Alice

28 de novembro de 2012

Quanto vale uma pessoa?

Há uns anos atrás, lembro-me de ter assistido na TV a um debate sobre bioética. Na ocasião, chamou-me a atenção uma frase dita por uma das debatedoras, que a certo ponto já estava irritada com  o pouco efeito que surtiam seus argumentos: "vocês são todos especistas. O que lhes faz pensar que o ser humano vale mais do que uma barata?".

Recentemente tive a resposta. Não de forma filosófica, mas de forma tão concreta, tão empírica, que doeu. Desejei que aquela debatedora estivesse ali. Que o mundo inteiro visse o que eu vi. Talvez assim todos teríamos a resposta àquela pergunta. Porque, por mais estúpida que tenha sido a forma como ela foi formulada, é uma pergunta importante. E se a resposta fosse pela dignidade humana, as consequências pessoais e globais seriam devastadoras. Teríamos que rever muita coisa.


Voltei há poucas semanas de um dos países mais pobres do mundo. Lá a forma como milhões de pessoas estão vivendo se assemelha muito a dos animais. Guarda até algumas semelhanças com o estilo de vida das baratas, para o arrepio daquela debatedora.

Conheci uma senhora de 83 anos que vivia em uma barraca sem um único móvel. Dormia sobre as pedras. Defecava na grama, na rua. Tomava banho em uma tigela, na frente de todos. E não por falta de modéstia ou decoro. Mas porque não há um único banheiro no acampamento de desabrigados onde vive com outras 30 mil pessoas, todas nessa mesma situação.

Há um bairro, neste local onde estive, que está sobre um lixão. Vê-se, por todos os lados, verdadeiros montes formados por toneladas de lixo. E, no meio do lixo, já acostumadas com o cheiro pútrido, centenas de crianças magras e descalças disputando, com cabras e porcos, quaisquer restos de comida que possam encontrar no lixo.

Visitei um orfanato em que algumas das crianças estavam completamente nuas. Na rua também se vê isso. Não por costume, como algumas tribos indígenas. Mas porque não têm uma única peça de roupa. Nem uma cuequinha, nem uma meia ou uma camisetinha. Nada.
Num quarto, dormia uma criança que deveria ter uns 3 anos. Havia pelo menos umas 30 moscas sobre ela. Na boquinha, na orelhinha, sobre os olhos fechados.

Na cozinha, as panelas eram lavadas em tigelas com uma água cinza escura. Milhões de pessoas sem água encanada, sem luz.

Mas, o que isso tem a ver com o amor, que é tema deste blog? Esta foi outra lição que eu aprendi. Essas pessoas, por serem pessoas, precisam de muito mais que água, comida ou assistência médica. Elas precisam de amor. Amor para subir do grau da mera subsistência. Amor para recuperar sua dignidade. Mas, tudo isso, eu deixo para uma próxima postagem.

Maria Júlia Manzi

21 de novembro de 2012

A vida e suas escolhas


Muitas vezes rememoro passagens que parecem muito remotas como se fossem histórias antigas contadas por alguém, lidas em algum livro, vistas em um filme. Com surpresa, eu percebo que são lembranças do que eu vivi das minhas muitas vidas.

Lembro-me das cavalgadas ao lado do meu avô. Lembro-me da dedicação tentando tocar violoncelo (há tanto tempo que não toco... ). Lembro-me das aulas de dança, das aventuras subindo montanhas, ou da paixão que eu tinha pelos números, muitas coisas que não faço mais e muitas que provavelmente não voltarei a fazer.

Estas lembranças me levam a pensar em todas as possibilidades que eu tive na vida e nas muitas vidas que eu poderia ter tido. Foram estas possibilidades de aprender, de testar, de escolher e de amar cada momento que me conduziram até onde estou, com meu marido, com minha filha, com minhas novas escolhas e com minha infinidade de novas possibilidades.

Amo a liberdade de escolha e as possibilidades que a vida me deu.  Amo meu passado, meu presente e meu futuro. Amo os erros dos quais me arrependi e que me ensinaram que há sempre uma possibilidade de mudança, de fazer novas escolhas. Amo a trajetória que escolhi e que se renova a cada novo passo. E percebo a dádiva que é escolher, pois a minha vida é alimentada diariamente por minhas escolhas.

Por D.


14 de novembro de 2012

A minha mãe



A minha mãe foi sem dúvida a pessoa que mais amei e sou imensamente agradecida porque o que sou hoje devo em grande parte a ela. Se quando vivia já pensava nela, no que fazer para agradá-la, agora ela está mais presente na minha vida do que jamais esteve.
Quando rezo posso também falar com ela, porque sei que ela está bem perto de Deus.

Não há um dia em que não pense em ti, Mãe querida!

Nos seus últimos dias conosco eu tive a impressão de que era eu quem a ajudava a ser forte, a viver cada dia. Agora é ela quem me ajuda a ser mais forte e a viver melhor cada dia. Me ajuda mais do que antes, mais do que sempre me ajudou.

Saudade! 


Por J.

7 de novembro de 2012

A Cura




Que encanto manter a memória leve, lenta para a ira
Que graça poder andar sem rancor
Feliz do homem que não altera o seu itinerário movido pela ira
Nem se lança ao dia com a vingança no peito
Porque o amor “é forte como a morte”, diria o sábio
E o perdão daquele que sabe amar,
Forte como a luz que não se pode reter
E quente, como os raios do sol que o mundo ilumina
Que as geleiras derrete,
Que as paisagens modifica revelando ao fim uma beleza incomparável
Afortunado é aquele que ama mais
Que perdoa antes do amanhecer
E que vê na lágrima, uma estrela
Se afia com sua luz e se enfeita
Feliz do homem que lava o rosto com as águas dos seus olhos
Pois elas removem as marcas da noite
Aliviam o coração e preparam para a luz da aurora
Feliz aquele que persegue o perdão
Atributo indispensável do amor
O perdão passa pela memória profunda
Mas o amor encobre, encanta até o mar
Perdoar é vitoriar-se do deixar passar
E ir andando...
Vingar-se é entrar de braços abertos num rio traiçoeiro
É levar no peito um hino fúnebre
Lançar o coração na escuridão da morte.

Luana Borsari

31 de outubro de 2012

Toda história merece ser contada



O que eu sempre mais quis na vida foi contar histórias. Mas dezenas de pequenos medos idiotas vêm me travando nesses tempos e me desviando do meu desejo. O medo adolescente de engordar (existe essa ideia ridícula que associa qualquer nível de sobrepeso, principalmente o feminino, à infelicidade insanável...), o medo jovem de envelhecer (pro Tártaro essa outra ideia estúpida que acredita que envelhecer seja algum tipo de crime ou doença!), o medo adulto de não arranjar trabalho (ter o que comer continua sendo, legitimamente, uma preocupação fundamental de qualquer pessoa, o problema é quando as coisas são de um jeito que essa preocupação leva a excluir ou pelo menos a sufocar todas as demais), o medo escolar de não aprender tudo o que eu devo (e quantas vezes decorei um monte de coisas pra no meio delas esquecer: mas o que era mesmo que eu estava tentando aprender?), o medo exibicionista de desagradar, o medo carrasco de fracassar, o medo triste de não amadurecer e, talvez acima de todos, o medo traiçoeiro, feminino e humano de ficar só. 

Pois bem, desde criança eu sei que preciso contar histórias, mas venho atrasando essa tarefa desde então. Já usei boas e más desculpas (dias muito frios, noites muito quentes, deveres mais urgentes), mas a verdade é que a única coisa que me trava são os medos. E esses medos todos, quando se juntam, se transformam em algo assustador e aparentemente invencível: a incapacidade de contar a história da minha própria alma.

Contar a história da própria alma é fundamental, mas você só é capaz de fazer isso quando percebe que está com os demais. E que é com eles, por eles e para eles que você pode – e deve – contar essa história.

Para mim, a minha vocação de contar histórias só se destrava na medida em que eu consigo contar a história da minha alma, isto é, na medida em que eu sei viver a minha vocação primeira ao amor – na medida em que eu sou capaz de realizar, a cada dia, o milagre de estar com os demais.

Acabando de superar a fase dos vinte e poucos anos, esses tempos me peguei me achando velha e muito chata pra começar qualquer coisa que valesse a pena (era um momento de estupidez rotunda e por isso sequer me lembrei de que já tenho começadas algumas várias coisas muitíssimo empolgantes e que valem tremendamente a pena...). Tive, por um instante, vontade de fazer seis coisas (não necessariamente compatíveis e não necessariamente nessa ordem): 1) chutar o balde e dar o cano em todos os compromissos da semana; 3) comer uma panela de brigadeiro inteira sem dividir com ninguém; 3) raspar o cabelo e ir viver nas montanhas sozinha; 4) ler todos os livros do mundo; 5) passar o resto da vida morando cada ano num país diferente; 6) me trancar no quarto pelo resto do dia. No final tomei vergonha na cara e saí pra encontrar uma amiga, que era o que a minha agenda dizia que eu tinha de fazer, afinal. E depois de um dia normal bem vivido entre as pessoas, me lembrei: Não existe história que não valha a pena – porque não existe pessoa que não valha a pena. Toda história merece ser contada. Inclusive a de hoje.

Por Hannah

26 de outubro de 2012

O bem de si e o bem do outro

Nesses 25 anos de casada pude experimentar com propriedade, no dia a dia, a afirmação de Aristóteles: "Amar é querer um bem para o outro." Percebo agora o quanto lutar para viver segundo esse princípio valeu a pena. Não vou dizer que foi fácil, pelo contrário, várias vezes custou muito, pois nem sempre o amor vem acompanhado de um sentimento agradável.

Quando a minha primeira filha nasceu a alegria foi imensa, meu marido e eu ficamos encantados com aquela criaturinha, que para nós era a mais linda do mundo! Mas as primeiras dificuldades surgiram logo na amamentação. Foi bastante dolorido, mas a vontade de amamentar minha filha era tão grande, pois sabia que era melhor para ela, que suportei as dores e continuei amamentando. Percebi, com esta experiência, que o amor não é um sentimento, mas um ato da vontade, que pode ser acompanhado por um sentimento agradável ou não.



Este é só um pequeno episódio que faz parte do meu aprendizado sobre o amor. Há centenas de outros em que me alegrei, perdoei, ajudei, corrigi, cuidei, curei, recordei, sofri e me compadeci. Como consequência me desenvolvi como ser humano e percebi que querer o bem do outro é querer também meu próprio bem.

Por E.

17 de outubro de 2012

O grande "sim" e o constante sim

 Eu sou muitas coisas: filha, neta, irmã, prima, amiga, mas não sou esposa.

 Às vezes a gente fica com a impressão de que a vida da mulher é isto: uma corrida para se tornar esposa.

Ser esposa é, sem dúvida, uma grande expressão de amor. Acredito, contudo, que a hierarquia do amor não deve ser socialmente determinada, mas sim individualmente. Isto é, não devemos necessariamente seguir o que a sociedade espera que façamos (casar-se! só por ser este o "sonho de toda mulher"), mas aquilo que percebemos que devemos fazer em cada circunstância.

Vejo a vida como um longo caminho em espiral.  Durante nossas andanças nós o vamos preenchendo com ladrilhos de diferentes cores. Cada ladrilho é uma resposta diferente a um desafio diferente, uma chamada a amar, antiga ou nova...
Em cada momento a vida nos convida a amar, seja como filha, como neta, como irmã, como prima, como amiga, como tia, como esposa, como mãe.

Penso que o grande “sim” das mulheres não é o do altar, mas o constante “sim” de cada instante, através do qual possibilitamos a vivência e a renovação do amor em todas as relações que nos tocam...

   Por que compor um caminho monocromático se  o mundo nos oferece tantas cores de ladrilhos?


Por Alice