3 de abril de 2013

L'Amour




A primeira vez que eu pisei na Índia tinha 25 anos e voltaria para o Brasil depois de oito meses. Chegando, meu primeiro pensamento foi: “aonde eu vim me meter dessa vez”. Pânico, confusão, medo e muito, muito calor.

Para os que não sabem, sendo bem genérica e grosseira, a Índia é outro planeta no Planeta Terra, algo que defino como países impossíveis. Morei no sul daquele país, numa cidade longe de ser cosmopolita como Mumbai ou Nova Délhi.  Era realmente o fim do mundo.

Passados cinco anos desde essa aventura, passei a entender a célebre frase de Nietzsche, que diz que é preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela brilhante. No meu caso, a estrela brilhante se chamava Amor. Eu encontrei o Amor em um lugar sem esperança e quando não estava procurando. Não tinha tempo de pensar nisso, estava muito ocupada sobrevivendo. E o Amor, como todas as coisas de Deus, não é óbvio.

Essa estrela brilhante transformou oito meses em cinco anos. Minha mala só com roupas de verão teve de ser rearranjada para enfrentar temperaturas europeias do mês de novembro. Não voltaria mais ao Brasil. Minha nova morada seria na Bélgica, país que até então só conhecia pelo seu tamanhinho e sua cerveja, mas que jamais poderia imaginar que lá moraria sem ao menos ter visitado. Pois bem, o Amor. Virei uma “Love refugee” como meus amigos gostavam de falar. Troquei um caminho certo por um desconhecido. Mas, de novo, eu gosto não só de países impossíveis, como coisas impossíveis. Hoje, do “alto” dos meus 31 anos, me pergunto de onde saiu tanta coragem. 

Aí, olho para as minhas costas e vejo uma cicatriz que diz “a sabedoria não está na razão, mas no Amor”. Foi do Amor que veio essa coragem.

Hoje, estou ansiosíssima, esperando que onze longos dias passem rápido. Porque, dessa vez, eu vou receber meu refugiado, que vem ficar ao meu lado, deste lado do mundo, lugar que eu chamo de minha casa. 


Por Letícia

Um comentário:

  1. "E o Amor, como todas as coisas de Deus, não é óbvio."
    Que frase marcante, forte... Certa. Não sei definir. Texto muito bonito.

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