Hoje de manhã quando
eu estava no mar - diga-se de passagem: gelado, escuro, com ventos uivantes e
uma garoa que caía na diagonal - comecei a refletir sobre a
"unidade"... É engraçado, pois acredito que para cada pessoa ela
se expresse intensamente de formas distintas.
Todas as pessoas que
eu conheço que "surfam" criam uma relação tão intensa com o oceano e
com a prática que talvez só possa ser explicada pela "unidade".
Estar no mar, depois
do ponto onde as ondas quebram, sentado num lugar sagrado, onde nada nem
ninguém vai te atingir (a não ser uma onda talvez rs), olhando para o aquela
linha cinza entre o céu e o mar, esperando a série se formar, esperando a onda
chegar... subitamente um peixe salta da água no horizonte e três pássaros
passam ao teu lado num vôo rasante como se você não estivesse ali, como se -
agora sim - você fizesse naturalmente parte da paisagem.
É uma sensação
espetacular... fazer parte de um todo, de uma unidade, e ser ao mesmo tempo tão
insignificante e vulnerável. Mas se sentir imensamente grato por isso.
...
Está frio. Você
já não sente mais a ponta dos pés nem das orelhas. O mar nem está tão bom
assim. O vento sul não perdoa. Mas lá ao longe você vê alguma coisa se
formando... uma ondulação vindo na tua direção, para você, o universo está te
dando um presente. Você começa a nadar, sente ela te puxando para trás. Você
está mais alto e ela te desafia. É preciso levantar, agora. Toda a força do teu
corpo te impulsiona para ficar em pé. Você sente um frio na barriga e desce, em
pé, o presente que o oceano trouxe especialmente para você. Agora é só
aproveitar, 5 segundos que parecem uma eternidade. Você olha para trás e teus
amigos comemoram, felizes por você ter merecido aquele presente.
...
Teus medos,
ansiedades e angústias foram temporariamente lavados pelo mar. Você se sente
mais completo, mais único, mais vivo. Nada te faria mais feliz naquele momento
do que aquela onda.
Por Isabel Ziesemer Costa
Acho que todo surfista se identificará com o texto.
ResponderExcluirParabéns!