6 de março de 2013

Aprendendo a ser pacientes



Sou fonoaudióloga, trabalho com reabilitação de pacientes surdos. Quando me perguntam se gosto do que eu faço, respondo que não me imagino fazendo outra coisa. Amo a minha profissão. Mas não é sobre mim que gostaria de falar hoje, mas sobre os meus pacientes.

Refletindo sobre a palavra “paciente”, posso dizer que meus pacientes o são como que duas vezes, me explico: primeiro porque o relacionamento que tenho com eles é de terapeuta e paciente, depois porque no caso de um trabalho de reabilitação com pessoas que nasceram surdas ou que perderam a audição necessita-se muito da virtude da paciência. Posso garantir que todos os pacientes que permanecem por um tempo em terapia fonoaudiológica aprendem a ser pacientes.
Para eles, assim como para todos nós, toda pequena conquista é uma grande conquista. Não conseguimos imaginar o que é sair do silêncio e passar para o mundo dos sons, ou conhecê-los e de repente se ver mergulhado no mesmo mundo, mas sem nenhum som.
Vou contar alguns exemplos de pequenas-grandes conquistas.

D. perdeu a audição aos 20 anos. Depois de 20 anos voltou a reconhecer e compreender os sons após fazer uma cirurgia chamada implante coclear. Disse-me que uma das suas grande alegrias seria poder ouvir seus quatro netos. Depois de algum tempo, após várias sessões de reabilitação, voltou a ouvir não só os sons ambientais, mas o que tanto queria. Ele relata, brincando: "Eu estou feliz de poder ouvi-los, mas eles não precisavam gritar tanto!"

Chovia. G. ouviu o som da chuva e foi fechar a janela da sala do apartamento onde mora. Parece simples, mas para G. foi uma grande conquista porque nunca escutara o som da chuva. Alguém já agradeceu por ouvir este e outros sons? G. ficou muito mais feliz pela primeira vez que ouviu a chuva do que chateada pelas tantas vezes que sua sala molhava após não ouvi-la.

Descobriu-se que R não ouvia quando tinha 2 anos de idade.. Foram tomadas todas as providências: terapia fonoaudiológica para estimular a fala, cirurgia, muitas sessões de reabilitação. Aos 3 anos, na sua festa de aniversário, já ouviu o “Parabéns pra você”. Aos 4 anos já pode cantá-lo. Aos 5 anos, em uma das sessões de reabilitação, após eu lhe fazer muitas perguntas para ver como estava a compreensão da linguagem, virou-se para a sua mãe e disse: "Mãe, a J. não sabe nada! Porque ela me pergunta tantas coisas?" 

 Fica fácil entender por que minha profissão é apaixonante. Observar a persistência dos pacientes e de suas famílias é muito gratificante. É por isso que posso afirmar que as pequenas conquistas já são, no fundo, grandes conquistas. 

Por J.

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