Hoje
quero compartilhar com vocês uma crônica. A crônica que todo professor acaba
vivenciando na escola, diariamente, no seu cotidiano com os seus alunos.
Vamos lá... Sou estudante do quarto ano de
Letras, da Universidade Federal do Paraná, e aprendi o que era crônica pela
primeira vez aos 11 anos de idade, quando ainda estava na quinta série. Nunca
dei muita importância para esta forma tão “corriqueira”, “cotidiana” e “pouco
poética” de narrar. Descobri em sala de
aula, como professora, que nunca aprendi e internalizei tão bem este gênero.
Estranhamente nós somos pagos para ensinar, contudo nós sempre somos os que
mais aprendemos nessa empreitada docente.
Meus
alunos tem exatamente 11 anos, idade com a qual aprendi o que era crônica.
Ensinei todos os conceitos perfeitamente. Fizemos ficha do assunto. Lemos
milhões de crônicas em sala. Diferenciamos de outros gêneros. Tudo nos
conformes. Alguns alunos se empenhavam mais, outros mais ou menos e outros
simplesmente desprezavam a disciplina. Após todos os blas blas blas sobre
crônica, pedi que eles produzissem uma, aplicando tudo o que eles aprenderam e
viram nas leituras.
Todos
escreveram a tal da crônica exigida pela professora. Muitos falaram de zumbis,
planetas X, galáxias ainda não descobertas e extraterrestres; muitos ainda
fizeram um relato pessoal, como uma espécie de diário, porém teve uma redação,
sem parágrafo, com milhões de erros ortográficos, do aluno mais indisciplinado
da turma, que seguiu os padrões do gênero e escreveu a tal da crônica.
A
história era de um menino que viu seu pai aparecer com outra família
repentinamente. De um menino que não sabia bem o que faria nos seus próximos
dias já que estava sem o pai. Diálogos com a irmã narrando o horror e a
tristeza cotidiana. O pai morando longe e o drama diário desse personagem que
não sabia muito bem o que faria. Para muitos isso poderia ser um conto, mas
para esse aluno era de fato uma crônica, já que, bem, estava contando o
cotidiano de uma criança, uma criança que representava ele mesmo na vida real.
A crônica, que para mim não passava de muitos conceitos fechados que serviam
como uma forma de caracterizar este gênero, fez parte da vida do meu aluno, a
ponto dele ter encontrado nela uma forma de mimetizar a sua vida.
Na
verdade, essa tarefa que atribuí a eles me fez aprender
que ser professor te faz aprender com todos os alunos, inclusive os
indisciplinados e que não aparentam ser muito promissores no futuro. Aprendi que nem sempre o melhor da sala,
apesar de ter decorado ou estudado assiduamente os conteúdos, é o que
compreendeu melhor. Aprendi ainda que a delícia de ser professor está
justamente na surpresa que os pequenos sempre pregam na gente.
Ser
professor é entrar todo dia em sala com uma aula pronta e muitas vezes perceber
que na verdade a sua aula estava muito superficial para a profundidade dos seus
alunos. É encontrar o amor nos olhinhos deles atentos em você. É aprender
diariamente a simplicidade e a espontaneidade da vida, que a gente sempre acaba
perdendo um pouco quando nos tornamos adultos. A Crônica nunca foi tão real
como depois dessa redação.
Por Ana Karla Canarinos
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