Há muitos anos, quando eu era
ainda uma adolescente, me fascinei pela seguinte frase: “Viver é amar. A
qualidade do amor faz a qualidade da vida!”, cujo autor desconheço. Já foram
muitas as vezes que citei esta frase e parei para pensar sobre ela.
A questão é que há algumas
verdades básicas: o ser humano foi criado para amar. Apenas nós, humanos, possuímos tal capacidade. Afinal, para amar é preciso liberdade e, logo, inteligência e vontade. O ser humano precisa
amar e sentir-se amado para ser feliz, e felicidade é o que busca. Portanto, é
na relação com o outro e não com as coisas que se realiza.
No entanto, somos instigados a
todo momento a ter isto ou aquilo, e a ter cada vez mais, de modo que o homem é
levado a pôr suas esperanças na coisas, chegando ao ponto de usar as pessoas e
amar “as coisas”. O pior é que na maioria dos casos isso acontece sem a pessoa
perceber... ela entra na onda. Duas ondas que atrapalham o amor e a realização
do homem: “o importante é ter e não ser”, e “o individualismo/competitividade”.
Ao focar-se nas coisas e/ou
centrar-se em si mesmo, o homem se descaracteriza, deixa de lado a capacidade
mais refinada que possui e afasta-se de sua particularidade, a capacidade de
amar. Ao contrário, se a meta é amar, tudo se redimensiona, tudo encontra um
novo e mais profundo significado, e assim, uma realização mais completa.
Afinal, aproxima-se de sua essência, do que o diferencia dos outros seres, pois
o ser humano é um ser social e que pode aperfeiçoar-se até o último momento,
ressignificando momentos, experiências, conceitos, ideais, emoções, etc.
Contudo, não é simplesmente o
amor por um alguém que vai completar a vida de uma pessoa ou fazê-la melhor,
mas a disposição em amar. Em amar as pessoas no geral, as boas e as não tão
boas assim.
E amar significa estar atento às
necessidades alheias e querer atendê-las de algum modo, seja com a escuta, seja
com o conselho, seja com um favor, seja com uma gentileza, seja com um sorriso,
seja com um abraço, seja com a verdade.
Significa estar aberto a conhecer
e buscar as qualidades positivas do outro ao invés de centrar-se só no negativo
ou na primeira impressão, significa buscar pontos em comum, significa pensar
antes de responder atravessado, respirar fundo antes de mandar à merda, deixar
pra conversar depois que a raiva passar, não julgar com a rapidez de um leviano....
significa também disposição para perdoar – não porque o outro merece, mas
porque precisa, pois se errou, se feriu, se pisou na bola, está mostrando uma
fragilidade que todos nós possuímos, pois apesar de nos acharmos muito melhores
que muita gente, talvez faríamos coisas muito piores se tivéssemos a história
que a pessoa tem nas costas, ou as experiências que ela vivenciou, as pessoas
com quem ela conviveu etc.
Disposição para perdoar principalmente
porque amar é algo que podemos aprender e ensinar, algo que não combina com
mágoa, com rancor e com ressentimento, pois estes só nos aprisionam e tornam o
coração pesado. Amor tem muito a ver com leveza, com paz, mas ao mesmo tempo
com força, força para romper as misérias humanas, a inveja, a mesquinhez, o
egoísmo, o orgulho.
Por A.